O Transtorno de Personalidade Borderline é um transtorno de personalidade marcado por sintomas relacionados principalmente à impulsividade, baixa tolerância ao mal estar, crises frequentes, dificuldades nos relacionamentos; na autoestima e uma relação de “tudo ou nada” na forma de interpretação de eventos, pensamentos e relações. Se trata de um transtorno de personalidade pois estes sintomas estão presentes ao longo de toda vida da pessoa, podendo oscilar em sua intensidade de acordo com momentos do desenvolvimento.
Existem diversas teorias tentando explicar a origem deste transtorno conforme as várias vertentes da Psicologia. No entanto, dentro da teoria Biossocial utilizada na Terapia Comportamental Dialética, um dos principais componentes a serem observados e tratados em pacientes borderliners estão relacionados à Desregulação emocional, ou seja, a incapacidade de perceber, nomear, sentir e adequar emoções e reações emocionais.
O Transtorno de Personalidade Borderline segundo a teoria Biossocial
Segundo a teoria Biossocial, o TPB se origina através da interação de fatores biológicos com o ambiente. Uma criança pode nascer com alguma pré-disposição em seu cérebro no sistema que regula as emoções, pode vir, por exemplo com alguma sensibilidade maior e isto vai interagir no ambiente, de forma a piorar ou melhorar esta sensibilidade extrema.
Um ambiente invalidante, que não reconhece, não respeita e não ensina a criança sobre a possibilidade de sentir e demonstrar emoções seria um ambiente favorável a desenvolver o Transtorno. Afinal, todos nós recebemos no início da vida sinais que nos ajudam a aprender como falar, andar e até mesmo como lidar e demonstrar emoções.
No início da vida, os bebês se comunicam através do choro, certo? Digamos que um bebê esteja em um ambiente onde seu choro não é atendido pelos pais, o que acontece? Inicialmente, ela vai chorar mais alto…se ela chorar demais, provavelmente vai parar e vai receber o sinal de que chorar por suas necessidades não é eficaz, pois ela não foi atendida ou vai perceber que ela precisa chorar cada vez mais alto e mais alto para que suas necessidades sejam atendidas. Isso favorece uma percepção no futuro de que as emoções são desagradáveis demais, que não podem ser toleradas e que não serão atendidas .
Uma criança ao cair e se machucar provavelmente vai começar a chorar pois sentirá dor, quando falamos para ela que ela não deve chorar, estamos aí fazendo uma invalidação de suas emoções e necessidades. Como a criança aprende com os adultos, se essa invalidação for repetida diversas vezes, ela terá uma confusão sobre suas emoções, talvez não consiga mais senti-las, identifica-las ou manifesta-las de forma correta e isso pode resultar em emoções fora de controle( A desregulação emocional).
Portadores do Transtorno e a relação com as emoções
Pessoas com TPB tendem a tolerar muito mal emoções desagradáveis, por isso muitas vezes se machucam para dar conta do sofrimento ou até mesmo tendem a reações impulsivas num desespero enorme de que suas emoções sejam ouvidas. Já ouviram falar sobre a manipulação borderline? Então, dentro da Terapia Comportamental Dialética, encaramos isso como uma forma não eficaz de se fazer ser ouvida e atendida, muitas vezes desenvolvida dentro do contexto de invalidação emocional.
É importante lembrar que as emoções podem ser agradáveis ou desagradáveis mas todas elas possuem funções importantes dentro do desenvolvimento e manutenção da espécie humana e devem ser ouvidas e respeitadas dentro do possível. As emoções também comunicam, e muitas vezes a pessoa borderline não conseguiu aprender adequadamente como expressar e sentir suas emoções, afinal, muitas vezes, ela sequer foi ensinada a isso. Situações traumáticas que podem ser vividas também podem causar danos na capacidade de regulação emocional e muitas vezes percebemos que pacientes borderlines podem ter experienciado algumas situações traumáticas em suas vidas, como abuso e negligência.
Por isso, na Terapia Comportamental Dialética buscamos ensinar o paciente sobre as emoções e também buscamos auxiliar na regulação das mesmas, o que possibilita que controlem impulsos e entendam melhor suas reações emocionais. Trabalhamos assim sobre as funções e significados das emoções para que, entre outras coisas, isso ajude com a tolerância à emoções desagradáveis e a impulsividade.
Assim, ajudamos o paciente a buscar uma vida que valha a pena ser vivida.